Kratos já está fazendo hora extra

Olá, primeiramente começo me desculpando. Se você, caro leitor, chegou aqui esperando um texto raivoso de quem odeia a saga de Kratos, não é disso que se trata esse texto. Deixa eu elaborar, aí talvez você me entenda.

Se tem um gênero que me agrada em jogar, é o hack and slash. Algumas vezes só quero ligar o videogame e relaxar mente e corpo, arrebentando inimigos de tudo que é lado com um desafio levemente moderado e resposta rápida dos controles, e nesse sentido, God of War foi um prato cheio. Isso deixando de lado todos os momentos “caramba!!” (pra não dizer um palavrão), que as cutscenes com os chefes proporcionavam. Jamais esquecerei o duelo com a Hidra, chefe da primeira fase de God of War, onde você a matava transpassando a última cabeça dela com um mastro de navio e entrava na boca dela porque ela havia engolido o capitão do barco, que tinha uma chave que Kratos precisava. God of War era cru, grosseiro, rápido, brutal e divertido.

A batalha com a hidra e sua conclusão é empolgante até hoje

O jogo era bom e bonito, e o sucesso foi tanto, que não era difícil imaginar que continuações viriam (ainda bem), e assim chegaram God of War 2 e, com a entrada da Sony no ramo dos portáteis, trouxeram Ghost of Sparta e Chains of Olympus. Aí concluíram a história principal em GoW 3, já na sétima geração, e resolveram lançar mais um prequel, intitulado Ascension. Isso tudo num espaço de 8 anos já seria muita coisa, mas a Sony resolveu explorar a franquia até o desgaste, e aí vieram coleções dos jogos de PS2 para o PS3, depois os do PSP para o PS3, e por fim trouxeram um remaster de GoW  3 para o Playstation 4. Enfim, dá pra imaginar que praticamente você viu a Sony anunciar novamente os mesmos jogos algumas várias vezes em coletâneas diferentes o suficiente pra fazer com que o mundo inteiro já tenha pelo menos visto algum dos jogos da série uma vez na vida.

E é esse o ponto em que queria chegar, God of War foi explorado ao excesso com direito a prequels e remasterizações nesse curto espaço de tempo, ainda mais se você considerar que é um jogo relativamente repetitivo, o que o torna um pouco cansativo. Isso tudo sem sequer considerar que, como Kratos (Spoiler em frente), já destruiu os deuses do Olimpo, já não restava muito a preencher nessa lacuna. Aí começaram a surgir rumores sobre um jogo novo, agora ambientado na mitologia nórdica. Seria um tanto bizarro um personagem criado na mitologia grega entrar no rumo da nórdica, é meio estranho pensar na criação do mundo e do universo sendo compartilhado entre deuses nórdicos e gregos, é como colocar uma bola de sorvete no meio da lasanha de domingo. Por esse motivo o único pensamento que poderia concluir é que não seria o Kratos, ou que no mínimo, não o mesmo personagem utilizado nos jogos anteriores.

Aí chega a E3 2016 e a conferência da Sony já começa com um trailer apresentando um garoto brincando do lado de fora de uma cabana na neve, uma voz o chama e diz que está com fome, e para saírem para caçar, e quando a câmera entra pra mostrar quem estava falando, o público, além deste que vos escreve, vai ao delírio ao ver uma figura mais velha e barbuda do Fantasma de Esparta.

Bastou apenas uma imagem para deixar um pouquinho de lado o pensamento do quanto o personagem já havia sido explorado ao máximo. Aí você acompanha o novo gameplay, abrindo mão da zona de conforto que era o hack and slash brutal, entrando num estilo inexplorado (pela franquia) de um jogo em terceira pessoa, com combate muito mais intimista, com poucos inimigos, além de ganho de experiência por exploração e uso de habilidades, e vê que sim, Kratos tem mais a explorar, o que não tinha era o deus da guerra como tradicionalmente foi concebido.

“Tô com fome, garoto!”

Kratos, ao menos por essa apresentação, se tornou um sujeito mais controlado, amadurecido, e agora com uma segunda chance de constituir uma família, ainda que com todos os trancos e barrancos de sua personalidade brutal. O personagem, assim como a franquia, seguiu um rumo que voltou a gerar interesse nele, e olhando por esse prisma, se esse God of War estivesse contando a história de outro personagem que não Kratos, não teria funcionado tão bem. É o Kratos quem agia impulsivamente e era uma bomba de testosterona que eu diria até imatura, se não é esse personagem amadurecendo pra alguém que aprende com os próprios erros, que passa a pensar mais na situação antes de agir, como é o de se esperar de alguém mais velho, especialmente se este alguém se tornou pai, não creio que daria tão certo, faltaria tridimensionalidade ao personagem. É de conhecimento público que Kratos perdeu sua primeira família e essa foi sua motivação na linha clássica, mas mesmo nos poucos momentos em que vimos o personagem com sua primeira família, não houve  uma exploração do personagem com tanta maturidade quanto esse pequeno gameplay da E3 apresentou.

A idade, uma segunda chance com a paternidade, ou a soma dos 2 gerou esse personagem mais maduro? Só a versão final do jogo dirá

Não há ainda como saber se o jogo será bom e se conseguirá explorar ao máximo o potencial que o pequeno teaser apresentou, mas Kratos seguiu o rumo que deveria no momento. Se antes de chegar a E3 o interesse era mediano em um novo God of War, após essa apresentação, ele voltou ao centro dos desejos nos futuros jogos que a comunidade quer jogar. A dúvida agora fica por conta de saber se eles terão a coragem de deixar o personagem pra trás quando o momento aparecer.  A melhor introdução ao que queriam apresentar no momento, é com o Kratos, mas pelo futuro da franquia, talvez a torcida seja que o personagem sirva nesse novo jogo como peça de transição para seu filho. A Santa Monica, estúdio que produz o jogo, já disse que essa não será a última vez que veremos o personagem, e como dito, não há ainda como saber que rumo a história seguirá, o que sinto é que mesmo esta nova “roupagem” de Kratos, tem validade, e pode se tornar tão repetitiva quanto sua antiga personalidade. Em nome da diversão e satisfação de todos nós, gamers, espero que a Santa Monica perceba isso, ou que eu esteja (muito) errado.

Sair da versão mobile