Um mundo distópico decadente em tons de cinza, manequins animados (ou humanoides sem intelecto) em forma humana controlados por indivíduos engravatados com máscaras, verificando se fazem tudo conforme são ordenados usando grandes máquinas bizarras e cachorros raivosos para destruir quem sai de controle. No meio disso tudo, um garoto de camisa vermelha, sem passado que precisa fugir de tudo isso.
É mais ou menos por aí a premissa de Inside, o segundo jogo do estúdio Playdead, o mesmo de Limbo. Ou talvez não, essa foi apenas a minha interpretação particular. Tal qual seu predecessor, Inside não se preocupa em contar nada a você, nem mesmo como se joga. O conceito minimalista é novamente levado à fundo pelo estúdio. Tudo é intuitivo desde o princípio e, de certa forma, não há nada que precise de tutorial. Movimente-se para os lados, um botão pula e outro interage com objetos, que sempre estão bem identificados.
Assim como Limbo, você não sabe de onde o garoto vem, por que o mundo está daquele jeito ou para onde você está indo, você apenas vai. Com esse minimalismo em foco o jogo funciona muito bem. De fato, história é, e não é, o forte do estúdio. A Playdead não tem o hábito de contar um enredo bonitinho contextualizando onde você se encaixa no momento do jogo, sua especialidade é a de contar uma história em que você se apegue ao personagem pelo que ele está fazendo, utilizando apenas os seus sentidos. O contexto histórico é irrisório, desnecessário, ela acontece daquele jeito e pronto, é como você sente e absorve tudo aquilo que realmente importa.
Talvez por já ter a experiência de Limbo, não houve nenhum momento em que o jogo ofereceu dificuldade, entretanto, não significa que Inside seja uma continuação pior. Ao contrário, desta vez o jogo está tão bem montado que passou a sensação de ter sido lapidado à mão, peça por peça, em cada cenário, afiado e polido diversas vezes até entregar o melhor resultado possível. A beleza visual é igualmente marcante, me peguei por diversos momentos parando apenas para apreciar o cenário. Isso não é à toa, mesmo tendo jogabilidade bidimensional, o trabalho de cores e câmera ao longo do jogo beiram o nível de cinema. No meio de um mundo em tons de cinza, Inside sabe com maestria onde colocar outras cores e apresentar visão panorâmica, ou focar no zoom para atrair a sua atenção até onde importa, isso sem falar na perturbadora ambientação sonora.
Sempre em movimento é a regra básica de progresso no jogo, e também é a forma como ele te aprofunda na esquisitice poética da trama. Sem entregar grandes spoilers, quando você achar que está se acostumando ao que está acontecendo, de uma hora para outra, a coisa ficará ainda mais perturbadora, e assim vai seguindo até o final. Nunca se acomodar, sempre renovar.
Inside é um daqueles títulos que deveriam ser considerados mais uma experiência interativa do que necessariamente um jogo, mas considerando que ele tem vários puzzles, ainda que não sejam difíceis, seu mundo perturbadoramente poético funde de forma exemplar os conceitos de interatividade artística e jogo. Isso acontece de uma maneira que fez valer a pena esperar 6 anos por algo em torno de 3 horas de “campanha”.
Que venha a terceira experiência.
Prós:
- Beleza visual de encher os olhos
- Trabalho de câmera e cores exemplar
- Ambientação sonora deixa o jogador ainda mais tenso
- Cenários e objetos milimetricamente definidos
Contras:
- Puzzles muito fáceis
- Apenas 3 horas de duração
