Seguindo os passos da série Alone in the Dark (Infogrames, 1992), Resident Evil foi um dos responsáveis pela popularização dos jogos de Survival Horror – gênero no qual um personagem com habilidades e recursos limitados precisa sobreviver aos seus inimigos em um clima de mistério e terror. Entretanto, com o passar dos anos, a série foi lentamente escorregando para a categoria de ação, com personagens saídos de história em quadrinhos, armas cada vez mais mortais e numerosas hordas de inimigos para serem destruídas. Com uma atmosfera digna do diretor Michael Bay (de Transformers), Resident Evil já não assustava mais ninguém.
Falou-se em reboot da série, mas o que a Capcom apresentou nesta segunda-feira, durante a conferência da Sony na E3, foi Resident Evil 7, uma sequência da franquia, mas com o propósito de retorná-la às origens e ao survival horror. A desenvolvedora foi além e, para provar suas intenções, disponibilizou imediatamente o demo Resident Evil 7 – Beginning Hour, para os assinantes da PSN+.
A demonstração precisa ser jogada no clima certo – madrugada, escuro e com fones de ouvido – para ser bem aproveitada. O jogo se inicia sem muitas explicações e coloca o jogador acordando em um ambiente estranho, sem saber quem é ou o que está fazendo ali. Logo fica clara a intenção da Capcom sobre o personagem, pois você não tem qualquer arma ou equipamento, seu passo é lento e seu campo de visão restrito pela luz de uma lanterna. Você não é mais o Chuck Norris dos zumbis, triturando cadáveres em seu caminho, mas sim um cara comum e assustado, em um ambiente que exala suspense e perigo. Sua missão é indicada rapidamente na tela, de forma clara e objetiva: saia da casa. Mais fácil falar do que fazer.

Em pouco tempo você habitua-se à jogabilidade, que agora é em primeira pessoa. Os poucos tutoriais do jogo explicam como usar o inventário de espaço limitado ou interagir com o cenário, correr ou se abaixar. Seguindo a cartilha dos bons jogos de terror, o personagem projeta sombras no cenário e você pode enxergar seus pés ao olhar para baixo.
Graficamente, Resident Evil 7 não decepciona, mas também não impressiona. Os efeitos de iluminação são bem feitos e, somados à paleta quase monocromática, ajudam no clima do jogo, mas o ambiente parece ter poucos detalhes e complexidade quando comparado com outros jogos desta geração – possivelmente uma limitação causada pela necessidade de que o jogo rode totalmente em VR em seu lançamento.
Os efeitos sonoros, um item importantíssimo no gênero, faz seu trabalho com ruídos desconhecidos, tábuas rangendo e passos incorpóreos. A ausência de trilha sonora é perturbadora, dando lugar a um ruído indistinguível e à respiração do personagem. Além disso, alguns dos jogadores que estão tentando revelar os segredos do demo afirmam que o som do jogo pode conter pistas importantes. Resident Evil 7 foge dos scare jumps – aqueles sustos fáceis com algo pulando na tela e fazendo barulho, típicos em filmes de terror – utilizando o suspense como recurso para atrair o jogador.

É impossível não comparar Beginning Hour com o PT – o ‘Playable Teaser’ de Hideo Kojima, lançado com este nome, mas que revelava o trailer de Silent Hills em sua conclusão. Assim como em PT, o demo de Resident Evil 7 contém vários enigmas complexos a serem revelados e uma comunidade de jogadores está unida compartilhando descobertas e novidades.
Sem a estranheza característica de Kojima, Beginning Hour foca mais em quebra-cabeças reais, lembrando-nos dos velhos tempos da franquia. Um fusível que precisa ser encontrado para abrir uma escada, uma fita de vídeo que esclarece alguns fatos sobre a casa e gazuas para abrir gavetas trancadas. Entretanto, o jogo parece ter mais do que podemos ver refletido em sua superfície.
Como muitas pessoas da comunidade gamer já descobriram, você precisará jogar a demonstração mais de uma vez, aprendendo coisas novas em cada partida para aplicá-las na próxima jogada. Uma passagem secreta descoberta no final de uma jogada por ser utilizada no começo de outra para revelar novos segredos e os eventos que acontecem no passado – que pode ser jogado através de uma fita de vídeo – alteram o futuro.
No fim – ao menos por enquanto – o personagem sempre se depara com o mesmo destino. Mas jogadores em todo mundo ainda acreditam haver mais no jogo e alguns segredos ainda seguem inexplicados. O que significam as mensagens existentes nas ligações que o personagem recebe? Qual é a função do dedo de manequim encontrado em uma gaveta? Como sair da casa, a missão indicada no início da demonstração?
Hideo Kojima declarou que esperava que levasse uma semana para que os jogadores solucionassem PT e revelassem o trailer no final do jogo – mas a união da comunidade e a troca de informações fez com que isto acontecesse em menos de 24 horas. Resident Evil 7 – Beginning Hour vai para seu terceiro dia de buscas e tópicos com incontáveis páginas surgem em fóruns e grupos de discussão, compartilhando descobertas sobre o jogo.

Será que existe um segredo ao final de Beginning Hour? Será que as pistas apontam para algo ou, sem saber, os jogadores já revelaram tudo o que há na demonstração? Mais do que isto, será que a comunidade terá paciência para tanto? Com mais de 24 horas sem qualquer nova descoberta que avance os jogadores em seus mistérios, o demo de Resident Evil 7 corre o risco de frustrar demais e ser abandonado sem ter a chance de revelar seus enigmas.
A Capcom já declarou que a demonstração não faz parte do jogo final, que terá outro protagonista e outro cenário. O objetivo do demo é mostrar como o jogo irá retornar às raízes do suspense e do gênero survival horror. Se Beginning Hour representa bem o que teremos em Resident Evil 7, o jogo promete atender aos pedidos dos fãs da categoria e poderá ser a revitalização que a série merece.