Se você já leu meu review sobre The Last of Us Parte 2, sabe que eu considero o jogo incrível – embora tenha algumas críticas ao seu ritmo e narrativa. Porém, uma das principais críticas que eu escuto é sobre o final do jogo e como ele se desenrola. O final da jornada de Ellie é um dos meus pontos favoritos nesta história e se você já finalizou The Last of Us Parte 2 ou não se importa com spoilers (pois terão muitos), siga comigo para entender a razão.
The Last of Us Parte 2 termina com o que, para muitos, é um momento anticlimático. Ellie e Abby finalmente se encontram novamente, e após uma luta frenética (a contragosto de Abby, que só aceita lutar após Ellie ameaçar a vida de Lev, seu protegido) Ellie finalmente tem a vida de Abby em suas mãos… e a deixa partir.
Simples assim. Não há um discurso… não há qualquer conflito de ideias. Sentada em total solidão (o maior medo de Ellie, conforme ela expressou no primeiro jogo), ela vê Abby e Lev partirem na névoa.
Ao contrário do que muitos parecem acreditar, eu não acho que fosse necessário um diálogo ou conflito verbal entre as personagens para aquela conclusão. Abby já havia perdoado Ellie (diferente desta, ela havia encontrado propósito na parceria com Lev e no possível encontro com os remanescentes dos Vagalumes) e seguido em frente, de modo que o único conflito real ali se passava dentro da própria Ellie, incapaz de deixar para trás a vingança, representada pelas constantes visões do Joel morrendo.
Entretanto, existe um diálogo silencioso que acontece naquele momento e que determina a decisão de Ellie no último instante, enquanto Abby finalmente se afogava sob o mar – um diálogo que nós, como jogadores, só iríamos conhecer mais tarde.
Diferente dos flashbacks anteriores, em que Ellie sempre se recorda do rosto de Joel ferido contra o chão, o que ela vislumbra nos instantes finais da luta é Joel na varanda de casa no fim do dia, tocando violão (o instrumento que representa uma enorme ligação entre eles, fragilizada no momento em que ela perde os dedos durante o embate). Esta memória é o início da última cena do jogo, na qual ela revisita sua última conversa com ele.
“All the promises at sundown, I meant them like the rest (Todas as promessas ao pôr do sol, eu falava sério, assim como o restante)”. A letra da música Future Days do Pearl Jam (tocada por Joel ao presenteá-la com o violão e ensaiada por ela em diversos momentos da jornada) também está presente nas páginas do diário. Embora não esteja presente no jogo, a letra segue “All demons used to come around, I’m greatful now they’ve left (todos os demônios que costumavam estar por aqui, estou grato que agora eles se foram)”.
Ellie teve uma vida perturbada, tendo seus propósitos arrancados dela constantemente. A recém descoberta paixão por Riley interrompida pelo ataque de infectados no shopping. A promessa de que ela seria a cura para o mundo arrancada pela decisão de Joel no hospital. Como se não bastasse, sua última promessa, ao pôr do sol, tornou-se impossível de ser cumprida com a morte de Joel.
Mas que promessa seria esta e como relembrá-la naquele momento poderia interromper o ciclo de vingança entre ela e Abby? Para isto, basta lembrar da última conversa entre Ellie e Joel, nos momentos finais do jogo… sequência do mesmo encontro na varanda que surge na mente dela durante os últimos momentos da luta.
“Eu não acho que eu consiga te perdoar por aquilo. Mas estou disposta a tentar.”
Depois de passar toda a sua jornada culpando-se e tentando honrar Joel vingando sua morte, Ellie recorda-se que sua última promessa para ele não foi sobre vingança.
A última promessa de Ellie foi uma promessa de perdão.
Designer por profissão e gamer de coração, Raphael é apaixonado por jogos que sejam imersivos e permitam que ele se esgueire por trás de seus inimigos, eliminando-os de forma silenciosa e impiedosa.