Era o segundo dia de Brasil Game Show e por mais que a etiqueta de Imprensa no crachá estabeleça seu papel dentro do evento – de testar jogos e conversar com PRs, produtores e desenvolvedores – é impossível se desconectar do fã e apaixonado por games que existe dentro de você.
Por este motivo, parti para São Paulo com uma missão adicional. Carregando constantemente a caixa do novo God of War, defini que faria o possível para sair da feira com os autógrafos de Cory Barlog e Glauco Longhi, respectivamente diretor e designer de personagens do título que considero um dos melhores do ano e da geração.
Após um primeiro dia cansativo, decidi levar menos peso e não carregar o equipamento fotográfico para o seguinte. Ainda assim, e ciente de que a melhor oportunidade para obter os autógrafos seria o Meet & Greet marcado para a sexta-feira, mantive meu jogo sempre por perto, acomodado na mochila da Carol Belonio, uma das nossas companheiras de equipe do Doze Bits.
Não que eu acreditasse que a dupla Barlog e Longhi fosse surgir repentinamente na minha frente, ou que eu fosse os encontrar de forma fortuita no estacionamento, ou que – por qualquer motivo maluco – eu fosse chamado ao palco do estande da Sony para cumprimentá-los pessoalmente – mas eu queria estar com o jogo (e duas canetas permanentes) por perto.
Passava pouco das 18 horas quando os talentos por trás da nova aventura de Kratos surgiram no estande da Sony para uma sessão breve de perguntas dos fãs. No meio da multidão, conferi as canetas no bolso e… o jogo não estava comigo. Eu estava com a Paula – minha esposa e também membro do Doze Bits – e havíamos nos separado do Luiz e da Carol, que estavam conversando com um PR em algum lugar da feira, com o jogo na mochila.
Eu tentava parecer indiferente e tranquilo, prestando atenção nas perguntas dos fãs e nas respostas do Cory e do Glauco, quando Paula falou que iria atrás dos outros para pegar meu jogo: “vai que eles abrem uma sessão de autógrafos ou algo assim”. Respondi que teria o Meet & Greet no dia seguinte, mas isto não a convenceu e ela partiu em busca deles, sem qualquer ideia de onde eles estavam (e ocupados, eles dificilmente olhariam o celular).
Agora eu estava sozinho ali, observando duas pessoas por quem eu tenho grande admiração falarem sobre God of War, sobre a relação de Barlog com a sua família representada no jogo, o papel do Glauco na concepção da Jörmungand. Duas garotas foram chamadas ao palco para uma disputa de desenho e ainda que eu soubesse que era remota a chance de que a Paula encontrasse nossos companheiros, ocasionalmente eu olhava ao redor com alguma esperança de vê-la chegando.
Foi quando o mestre de cerimônias perguntou quem gostaria de participar de uma nova prova de desenho e eu distraidamente levantei a mão. “O cara aí atrás, com a camiseta do Death Stranding”, disse ele, apontando para mim… e no momento seguinte eu estava em cima do palco, com Cory e Glauco com as mãos estendidas para me cumprimentar.
O tempo pareceu ficar bizarramente elástico neste momento, permitindo que – no tempo que levou para o mestre de cerimônias convidar outro participante – eu trocasse apertos de mãos com a dupla, falasse sobre como eu achava God of War um dos melhores jogos desta geração e até mesmo mencionasse meu irmão e seu filho e como a relação entre Kratos e Atreus havia tocado ele de uma forma profunda.
Neste momento olhei por um instante para a multidão e vi meus companheiros do Doze Bits esticando o braço com o jogo. O apresentador já pedia para eu posicionar no local para fazer o desenho enquanto eu pegava a caixinha e entregava para o Cory Barlog, que imediatamente entendeu que eu queria um autógrafo e já começou a remover o encarte.
Um contador de cinco minutos apareceu no telão, junto a um desenho da deusa Freya – a quem deveríamos desenhar. Cumprimentei meu “adversário” (naquele momento eu já estava bastante satisfeito com os eventos e o prêmio da competição era apenas um bônus) e começamos a desenhar.
Ainda assim, tentei o meu melhor naqueles cinco minutos, tentando controlar o nervosismo e desenhar com um pincel atômico. Trezentos segundos depois, nossos desenhos eram avaliados. Glauco escolheu meu desenho – por ter traçado as árvores do cenário e aproveitado bem a área do papel – enquanto Cory escolheu o outro. O público deu o voto de minerva, fazendo com que eu ganhasse uma bela camiseta com as silhuetas de Kratos e Atreus nas cores da nossa bandeira e a palavra Brasil escrita nas runas do jogo.
Cory e Glauco voltaram a nos cumprimentar e trocamos mais uma vez algumas rápidas palavras, enquanto eles assinavam também os desenhos, para que levássemos de lembrança.
Impressionados com a forma apaixonada com a qual os brasileiros se relacionavam com os games, Cory Barlog e Glauco Longhi foram extremamente simpáticos e atenciosos com todos, se mostrando realmente tocados pelo carinho do público. Quanto a mim, me senti definitivamente lisonjeado pelos minutos que tive do tempo deles e a forma generosa com a qual eles me atenderam. Naquele momento, os grandes nomes por trás de um dos maiores títulos do ano sumiram por um minuto e me deram a chance de ver dois caras como nós todos – em meio aos gritos de “BOY!”, cosplays do Kratos e do Atreus, o som de diversas telas de jogos e a cacofonia do evento, apertei a mão de Cory uma última vez e entendi porque sempre mencionam o carisma e a simpatia dele.
Desci do palco para receber o abraço dos amigos – que sabiam que eu havia conquistado algo naquele momento – e agradecer a Paula por ter ido encontrá-los. Ainda tínhamos três dias de Brasil Game Show pela frente, mas eu já havia platinado a feira.
Designer por profissão e gamer de coração, Raphael é apaixonado por jogos que sejam imersivos e permitam que ele se esgueire por trás de seus inimigos, eliminando-os de forma silenciosa e impiedosa.