A Media Molecule, ou simplesmente MM, ganhou notoriedade em 2008 com Little Big Planet, um jogo de plataforma charmoso cujo principal destaque era colocar nas mãos dos jogadores mais criativos um criador de fases, onde era possível combinar elementos e mecânicas do jogo e disponibilizar estas criações para os outros jogadores.
Estou conceito foi expandido com os novos jogos da série, onde já era possível criar inimigos, animações e até mesmo jogos de corrida ou tiro, mas tudo ainda preso ao visual de scrapbook que dava identidade à franquia. Anunciado em 2013 durante a Playstation Meeting, Dreams leva este conceito de criação a um patamar ainda mais ousado, colocando nas mãos do criador o controle sobre visual, modelagem e até mesmo música.
Eu tive a chance de testar Dreams durante a BGS e meu primeiro comentário sobre ele é que aquele não era o ambiente ideal para o título. Com uma demo voltada a demonstrar a versatilidade da “engine”, Dreams exigia alguma explicação prévia e estaria melhor atendido em uma demonstração à portas fechadas. Acompanhei algumas pessoas testando o jogo e muitos experimentaram apenas uma das opções disponíveis e a abandonaram rapidamente, entendendo que aquele projeto (muitos deles incompletos) era o jogo em si.
Com a oportunidade jogar algumas partidas com um dos produtores do jogo, testei todas as opções disponíveis e pude ter uma ideia da enorme versatilidade oferecida. A demo principal consistia em um breve co-op de plataforma 3D no qual dois robôs deveriam explorar o cenário, abrir portas e pegar alguns coletáveis, e já impressionava, neste momento, a beleza do jogo – principalmente considerando-se a possibilidade do próprio criador de modelar e criar os objetos e cenários (diferente de LBP, onde tudo era produzido com as ‘peças’ disponíveis).
Pude testar ainda um jogo de plataforma 2D, outro de nave com deslocamento lateral (com um tipo de movimentação que me lembrou Resogun) e até mesmo uma batalha espacial onde o jogador podia alternar entre a visão por trás da nave ou de dentro da cabine. O simpático Please Hug Me era como uma experiência interativa, quase uma “mini narrativa silenciosa”, sobre um cubo com braços que ninguém quer abraçar, e até mesmo um Adventure de Texto estava disponível. “Quando um dos nossos desenvolvedores chegou com um adventure de texto, ficamos espantados, pois nem sabíamos que era possível”, me disse o produtor.
Uma menção deve ser feito ao jogo competitivo multiplayer Hammer Time, onde dois jogadores controlam martelos em três mini-games que envolvem destruir lâmpadas, arremessar bolas em alvos e destruir o cenário (feito de peças de quebra-cabeça) para derrubar o oponente. Charmoso e altamente divertido.
Não é apenas nos gêneros que Dreams surpreende. Inicialmente, acreditei que todos os jogos teriam o visual onírico e aquarelado dos vídeos e em Windy Glades – mas as demos disponíveis apresentavam outras variações, como os gráficos 3D coloridos e limpos de Hammer Time ou os desenhos feitos à mão e rascunhados de Comic Sands (que ainda mesclavam elementos em 3D, mostrando que você pode combinar estilos visuais).
Assim como Little Big Planet, Dreams contará com um conteúdo pronto – criado pela própria Media Molecule dentro do próprio sistema, sem qualquer trapaça – mas é nas mãos da comunidade que ele poderá brilhar.
Estou ansioso para ver o que os mais criativos conseguirão fazer com as enormes possibilidades oferecidas pelo título, mas resta saber se a comunidade abraçará este potencial e enfrentará as horas e horas de tutoriais necessárias para dominar o sistema de criação.
O momento de lançamento do jogo também pode ter um impacto negativo, pois trata-se de um título que exige tempo para que a comunidade criativa amadureça e o final da geração já começa a surgir no horizonte. Mesmo que o “Playstation 5” venha com a retrocompatibilidade apontada por rumores, Dreams pode acabar atrapalhado pelo peso de ser um “título da geração passada”, reduzindo seu impacto.
Dreams ainda não tem data de lançamento e é um título exclusivo do Playstation 4.
Designer por profissão e gamer de coração, Raphael é apaixonado por jogos que sejam imersivos e permitam que ele se esgueire por trás de seus inimigos, eliminando-os de forma silenciosa e impiedosa.