Embora já tenha sido palco de momentos memoráveis na história dos games – como em 1991, quando a Nintendo anunciou ao público sua parceria com a Philips, um dia depois da Sony ter anunciado módulo de leitura de CD para o SNES – já fazem alguns anos que a CES (Consumer Electronic Show) deixou de receber anúncios importantes da indústria dos jogos eletrônicos.
Porém, mesmo que você não tenha acompanhado a conferência da Sony nesta segunda-feira (06/01), certamente ficou sabendo que a empresa aproveitou o evento para anunciar a “nova” marca do Playstation 5 – provocando uma série de piadas e memes na internet.
O que pode passar desapercebido é que toda marca significa algo, mesmo que este significado esteja na falta de mudanças, de transformações. A CES possui um público específico – formado por grandes empresas de mídia que normalmente não cobrem profundamente os eventos focados na indústria dos games, mas estão presentes em um evento de tecnologia – e a escolha do evento para tal anúncio pode não ser despropositada.
Quebras de geração são sempre momentos de grandes especulações e novidades, repletos de anúncios sobre revoluções na forma como videogames existem e até os eternos profetas do apocalipse – sempre prevendo o fim dos consoles.
Na virada geracional anterior, a Microsoft de Don Mattrick (talvez confiando nas previsões de que estaríamos vendo o fim dos consoles como os conhecemos) anunciava o Xbox One, prometendo uma máquina na qual você conversaria com seus parentes via Skype, conectaria sua TV a cabo, acessaria o Fantasy NBA em tempo real, controlaria por comandos de voz (mais de um ano antes da Amazon lançar a Alexa) e também poderia rodar jogos, ao mesmo tempo que explorava novas formas como os compradores consumiriam estes jogos.
A estratégia da Sony foi a oposta, apostando na ideia de que o mercado de games não mudaria tanto assim e oferecendo, por 100 Dólares a menos, um console focado em simplesmente rodar jogos.
Os números apresentados pela Sony durante a CES 2020 indicam o sucesso da estratégia, com o Playstation atingindo 106 milhões de consoles vendidos e 103 usuários ativos na PSN – fazendo do console o segundo não-portátil mais vendido de todos os tempos, atrás apenas do Playstation 2.
Sutilmente, a revelação da marca Playstation 5 pode reforçar, principalmente para o público que está fora do nicho dos games, uma repetição desta estratégia.
O timing faz o anúncio quase parecer uma resposta, acontecendo logo após o anúncio do nome e formato do novo console da Microsoft, o Xbox Series X, que por sua vez resultou em discussões sobre a possibilidade do nome causar confusão com o Xbox One X, o conceito de uma família de consoles, um ecossistema mais unificado e até mesmo da possibilidade de jogos da nova geração também poderem ser jogados nos consoles da geração anterior.
A Sony, por sua vez, oferece o conforto do lugar comum e parece prometer uma evolução, ao invés de uma revolução. Um console, uma nova geração oferendo mais potencial gráfico e melhorias incrementais, sem grandes mudanças na forma como isto é entregue ao jogador. Diante dos jornalistas de veículos como a CNN, Foxnews e outros (até mesmo de investidores, talvez?), a empresa parece dizer: “o Playstation foi isto até aqui, e continuaremos fazendo desta forma”.
Só o tempo e as vendas dirão se esta estratégia terá sucesso novamente. Mas sem novidades, a marca PS5 traz uma mensagem clara. Um novo console – de uma nova geração – que vem depois do Playstation 4 e provavelmente antes do Playstation 6. E só!
Designer por profissão e gamer de coração, Raphael é apaixonado por jogos que sejam imersivos e permitam que ele se esgueire por trás de seus inimigos, eliminando-os de forma silenciosa e impiedosa.